Seja atrevido, não se arraste, olhe nos olhos e aprenda a desrespeitar!

terça-feira, 20 de março de 2012

O que fazer?

Talvez esse texto seja visto como só mais um professor reclamando das condições de ensino nas escolas públicas do Estado de São Paulo, porém o que eu realmente espero é que alguém me dê alguma idéia que possa ajudar a mudar essa situação.
Não vou reclamar do salário, da falta de estrutura ou da indisciplina dos alunos. O que quero apresentar é uma postura que vi em um aluno da 8ª série há poucos dias. Postura que está propagando-se e tornando-se cada vez mais comum no meio escolar.
Durante uma aula percebi que um aluno não havia sequer aberto a mochila. Aproximei-me  e perguntei se ele não abriria o caderno e faria as atividades propostas. A resposta foi um seco "não!". Pedi os motivos e ele simplesmente disse que não queria fazer nada. Perguntei a ele por que veio a escola então, no que ele respondeu:
 - Porque sou obrigado.

E continuou lá sentado, a mochila sobre a mesa e olhando para o nada.

Minha primeira atitude foi comunicar os responsáveis por esse aluno, pois se essa postura se manter ele provavelmente será reprovado. Porém, como sempre digo, escola virou depósito de criança. Muitos pais não participam da vida escolar dos filhos. Não importam-se com um aprendizado eficaz que trará um futuro melhor para a criança ou adolescente, desde que possam deixar seus filhos fora de casa por algumas horas em um lugar onde 'não precisam ficar preocupados' com eles. É uma total fuga da responsabilidade de educar. É mais fácil transferir essa responsabilidade para terceiros que assumí-la integralmente.
Então esses pais apenas OBRIGAM os filhos a virem para escola, não importa o que eles façam dentro dela.
Mas o tempo irá passar e esse garoto irá crescer, terá um futuro difícil, marcado pelas dificuldades de uma vida sem preparação intelectual.
Não que eu queira formar apenas bacharéis. Sei que em nossa sociedade é marcada pela hierarquia e há a necessidade de pessoas que façam o trabalho pesado, provavelmente esse garoto fará parte dessas pessoas, porém há, também, a necessidade de que todos tornem-se cidadãos conscientes e para isso é preciso aprender a pensar, tornar-se crítico e ter uma base de conhecimentos que possa sustentar sua própria vida.
A falta de conhecimento é o maior problema da humanidade. É a causa de tantos problemas sociais com os quais os deparamos cotidianamente.
A atitude desse aluno é repetida por milhares de outros adolescentes que frequentam os bancos escolares, passam de cinco a seis horas dentro da escola e saem dela da mesma forma que entraram, nada mais.
Depósito de jovens.
A questão agora é:
O que eu, como professor, posso fazer para ajudar a reverter esse quadro?
A direção e coordenação da escola apenas acompanham e documentam essas atitudes, assim o alunos apenas passa pela escola e ninguém é responsabilizado além dele mesmo.
O Estado os orienta a buscar as pedagogias da moda, escritas por pessoas que sequer entraram em sala de aula como professores. Nos oferece muitas técnicas que em teoria e sem considerar a heterogeneidade dos alunos, funcionam maravilhosamente bem, mas nenhum apoio para pô-las em prática.
Os pais apenas jogam a responsabilidade nas nossas mãos e nos culpam quando algo não dá certo.
Os alunos, tão inconsequentes, não tem sequer maturidade para ligar os acontecimentos atuais com o futuro.
Agora, deparo-me com quarenta alunos dentro de uma sala e, com ajuda de lousa e giz, preciso fazer com que eles percebam o quão é importante o conhecimento nas nossas vidas, tentar fazê-los pensar, torná-los cidadãos responsáveis e conscientes.
Nos dizem que o futuro do país está nas nossas mãos, mas é uma carga demasiadamente pesada para ser carregada apenas pelos professores. O que sinto é que tornamo-nos babás dessas crianças, que temos que aceitar isso e fazer por amor ou mudar de ramo. Mas que tipo de sociedade formaremos?
Eu me recuso a agir dessa forma. Sou um professor e vou cumprir meu papel. Mas não posso dar conta do papel da família, do Estado e do próprio aluno.
A escola tem que volta a ser instituição de ensino e não, como já disse, depósito de crianças.
Aos pais só tenho a dizer o óbvio, tomem para si suas responsabilidades. Se é um fardo muito pesado, não tenham filhos.
O Estado precisa apoiar e dar condições para que esses alunos desenvolvam-se. E, se consideram que a educação das crianças é responsabilidade do Estado, que façam isso integralmente em instituições de ensino. Se os pais não dão conta, o Estado cuida, retirando da família e colocando em ambientes mais adequados. Façam por onde! Os alunos são fruto do que vêem. Copiam os valores ao redor. Se uma sociedade que valoriza apenas futilidades, agressividade, ócio e falta de caráter não é de se surpreender que os alunos tornem-se essa massa medíocre inconsequente e repugnante.
A mim, continuarei lecionando e pensando em maneiras de melhorar ou amenizar esse cenário. Se alguém tiver alguma ideia que possa me ajudar ou quiser pensar comigo, podem entrar em contato.
Vou parar por aqui, preciso preparar minhas aulas, afinal fui designado para o cargo de redentor da nação.
Vamos ao trabalho!