Hoje me perguntaram se sou de esquerda ou de direita. Na hora não
entendi o motivo da pergunta e pedi que a pessoa me dissesse, no que ela
respondeu:
" - Por que
você é professor, então não pode ser de direita, olha só o que o PSDB fez com a
Educação em São Paulo."
Tudo bem.
Eu realmente não
sou de direita, mas não é por minha profissão. Claro que esse fato ajuda muito
para meu sentimento de asco em relação ao PSDB e todo pensamento direitista. No
entanto, mesmo que não fosse professor, eu não conseguiria apoiar e defender
ideais ou partidos como PSDB. Não consigo entender, não me entra na cabeça esse
tipo pensamento, é muito egoísta. Minha criação não me permite defender tal
coisa.
Não vou relatar
aqui tudo o que me incomoda na chamada Direita, ficaria muito repetitivo, pois
ouvimos falar sobre isso o tempo todo (vide as revoltas e protestos contra o
governo do Estado de São Paulo). Vou apenas dizer o que me incomoda mais:
O modo como tratam
as questões sociais, onde o pobre é sempre o coitadinho que precisa de esmola.
Ao invés de garantir uma educação de qualidade, fornecer ferramentas
suficientes para que as pessoas desenvolvam uma autonomia intelectual e, dessa
forma, possa exercer a cidadania e construir uma vida digna, onde possuem a
capacidade de resolver seus problemas sem maiores transtornos, a solução
proposta pela Direita é fornecer às pessoas mecanismos de alívio momentâneo, um
"tempinho para respirar", enquanto o tempo passa, a vida passa e
tem-se a impressão de que houve soluções e surgiram novas dificuldades, quando
na verdade os problemas foram apenas maquiados.
A mesma direita
começou essa divisão do Brasil em preto e branco. Afro-descentes de um lado,
caucasianos do outro. O que é um absurdo em um país tão miscigenado como o
nosso onde existem negros, brancos, indígenas, caboclos, cafuzos, mamelucos, mulatos,
asiáticos e toda sorte de etnias e culturas. Cotas, mais um remendo que não
soluciona o problema e ainda desclassifica uma parcela grande dos cidadãos.
Essa forma direitista de olhar para os problemas é o que mais me
incomoda, portanto sou politicamente contra a direita. O que não me torna um
filiado de partido algum da esquerda brasileira que, convenhamos, não é nenhum
exemplo de boa conduta.
Os brasileiros estão com a visão muito limitada. Apenas duas
opções são fornecidas: esquerda ou direita. Por isso a maior parte da população
sente-se na obrigação de escolher uma das duas. Porém, há mais opções. Pode-se
não escolher nenhum lado, por exemplo.
Eu não apoio a esquerda, pois tenho visto que as atitudes
esquerdistas parecem-se muito com as da direita. Os ideais pregados são
diferentes, são ótimos por sinal. Há toda a história de luta, ideologia,
utopia, Marx, vermelho, etc. Militantes ostentando camisetas com o rosto do
Che. Uma fama de revolucionários e tal. Mas olhando para a Câmara dos deputados
não consigo dizer quem é direita e quem é esquerda. E não só pela aparência.
Para exemplificar basta comparar as votações dos projetos para melhorias na
educação, saúde, segurança, enfim, melhorias para a sociedade, depois as
votações pelo aumento do salário dos próprios parlamentares. Não é necessário
citar os valores, o que quero chamar atenção é para o número de deputados
presentes nos dias de votação.
Não faz sentido escolher um lado nessas condições. Não existe
esquerda ou direita, existe o lado de cima e o lado debaixo. O lado de cima é composto
por quem possui o poder de impor suas vontades sobre os outros, por exemplo, os
governantes, poder econômico, autoridades de grande influência, etc. No lado
debaixo está a população. Há quem diga que a polícia está no lado de cima, pois
tem certa autoridade sobre os demais, mas está no lado debaixo também. A autoridade
dada à polícia faz parte do jogo de controle da população para que continue no
lado debaixo, a polícia apenas não percebeu, ainda, que também faz parte da
população.
Quando elegemos um candidato, estamos colocando-o no lado de cima,
onde o poder cega.
O trecho abaixo, retirado de um poema em prosa esquimó iglulik, do
início do século XX, ilustra bem o que estou dizendo:
“Dois homens chegaram a um buraco
no céu. Um pediu ao outro ajuda para se erguer até a abertura... Mas era tão
bonito no céu que o homem que espiou ela beirada esqueceu tudo, esqueceu o companheiro
a quem tinha prometido ajudar a subir e simplesmente saiu correndo para entrar
em todo o esplendor celeste.”

Afinal o político não governa
para a população, governa para ele mesmo, para uma parcela da população que o apoia,
governa para seus próprios interesses. Um exemplo atual disso é o deputado
Marco Feliciano, o qual ataca sem hesitar grande parcela da população usando
argumentos retirados de um livro antigo que foi copiado ao longo dos séculos e
não tem comprovação de todos os fatos que estão lá, inclusive da existência de
Noé, citado pelo deputado como amaldiçoador do ancestral dos afrodescendentes,
fato que “explica” todas as dificuldades e atrocidades vividas por eles ao
longo da história. ABSURDO!
Diante disso, me nego a escolher
entre esquerda e direita. Escolho entre o que é bom e o que é mau. Escolho
atitudes boas, intenções boas. Escolho manter-me fora do cenário repugnante em
que está a politica brasileira.
Meu desejo é que tudo seja
demolido e construído novamente, por novas mãos, chega dos mesmos nomes em
todas as eleições. Há nomes circulando na política brasileira desde os anos 60.
Que saiam todos e entrem novos e façam novos projetos, deum jeito novo, novas
merdas, novos erros, novos acertos. Quem sabe isso não ajuda a melhorar um
pouco esse cenário.
Enquanto esse dia não chega,sigo
cantando aquela música do Aborto Elétrico:
“Você de esquerda, você de
direita,
São todos uns babacas e velhos
demais,
Vivendo em intrigas de tempos
atrás.
Acabem com a merda e nos deixem
em paz!
Verde e amarelo, verde e
amarelo...”