Nessas condições a saída é beber.
E bebi. Bastante. Bastante para mim que sou fraco pra bebida. Bebi pra me
soltar e descontrair, pra perder a timidez. Bebi até fica tonto.
Saí porta afora e me sentei na
calçada. Minha cabeça girava.
Girava.
Girava.
Deitei-me de costas e olhei para
o céu. Estrelas, muitas estrelas. Contemplei, impressionado, aquele teto cheio
de pontos luminosos. Maravilhoso.
Girava.
Lembranças vieram e entraram no
carrossel da minha mente.
Planos para o futuro também não
ficaram de fora.
E vi minha imagem ali deitado.
Uma visão de cima. Me vi ali jogado, largado como um pedacinho de pano.
Esquecido, quieto, imóvel.
Girava.
Olhava para minha imagem ali no
chão e ela começou a diminuir.
Subindo.
Então eu vi toda a casa, a rua, o
bairro, a cidade e eu muito pequenino lá em baixo, deitado. Apenas um pontinho.
Subindo.
Pude ver todo o continente e como
as fronteiras desaparecem desse ângulo.
Então vi todo o Planeta Terra.
Passei pela Lua e me senti um grão de pó esquecido na imensidão escura do
cosmos. Percebi então o quão insignificante sou e que, perante o Universo, de
nada vale minha existência. Viver ou morrer, não faz diferença. Nada muda a não
ser para mim, insignificante pedaço de quase nada, um resquício de fuligem
largado na calçada esperando por um vento que me levasse a algo que valesse a
pena, pois nada mais fazia sentido e tudo me pareceu fútil e inútil.
Levantei e fui para dentro. Um
amigo me questionou:
- O que fazia lá fora?
Abri um sorriso e disse:
- Morria.
O vento não veio.
Miguel Gonzales
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