Seja atrevido, não se arraste, olhe nos olhos e aprenda a desrespeitar!

domingo, 13 de maio de 2012

Resposta ao professor Vitor Nunes

Em resposta à “Análise” do professor feita na matéria

Prezado Professor Vitor,
Concordo que o “movimento” ateu é algo natural em uma sociedade plural e democrática, que ser ateu em meio a uma sociedade como a brasileira cause estranhamento e que deveria haver tolerância mútua para convivência pacífica.


No entanto, o senhor diz que “não concorda com o discurso da vitimização de quaisquer grupos que se consideram excluídos na sociedade”, gostaria muito de entender o que quer dizer com isso, pois ateus não se colocam como vítimas e coitadinhos, ateus não estão pedindo piedade da sociedade, apenas pedem respeito. Dizer que não há preconceito, como diz no fim de sua análise, é muito fácil. Falar do outro sem praticar a alteridade, a meu ver, é, de alguma forma, perigoso, dado que influenciará  o pensamento de muitos.  É muito fácil falar de um “não-lugar”. 


Gostaria de convidá-lo a fazer um experimento empírico. Passe um mês, em uma cidade onde as pessoas não lhe conhecem, vestindo uma camisa com dizeres do tipo: “sou ateu e exijo respeito”. Depois disso, escreva um artigo científico sobre o evento. Não posso afirmar, mas tenho a leve suspeita que seu conceito sobre preconceito e estranhamento iria mudar.

Ateus, ao se dizerem como tais, sofrem toda sorte de gracejos e piadinhas, quando não, de preconceito explicito. Nunca ouviu a frase: “ateu graças a deus, né?”, essa frase, por mais tola que pareça, tem a intenção de “diminuir” a importância da posição filosófica do ateu, dado que muitos teístas não conseguem conceber como uma pessoa pode não acreditar em deus. Outras formas de ataque ou ironia surgem quando dizem: “não existe ateu em avião caindo”. Por que não? É uma clara tentativa de fazer impor à sociedade a ideia de que ateus são uma postura covarde frente ao mundo, mas que diante de um perigo iminente eles voltam suas súplicas a deus. 


Outra frase de preconceito é a famosa: “é preciso ter fé para ser ateu”, não, não é preciso. Fé, segundo Hebreus 11:1 “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Nova Versão Internacional) e segundo o Houaiss é “confiança absoluta”, pois bem, ateus não tem certezas, eles tem pressupostos, sustentam aquilo que pode ser aplicado ao método científico, porém, estão completamente abertos a mudar seu paradigma mediante novas comprovações da ciência.   

Ateus são constantemente “ameaçados” com um inferno no qual não acreditam; somos chamados de amorais; questionam de onde vem nossa ética, dado que não acreditamos em deus; se tudo isso é só estranhamento e não é preconceito, preciso rever a semântica lexical dessas palavras. Mas, ao contrário, se dissermos “somos ateus graças ao não-deus”, isso soará pesado para qualquer teísta mais fervoroso, mas minha intenção com essa “frase exercício” é essa:, mostrar que essa forma de desrespeito é incômoda; ateus maduros não vão usar desse tipo de ironia. 


Não quero impor meu ateísmo a ninguém e respeito o direito das pessoas de acreditarem no deus que quiserem, pois, no mundo, idolatram-se mais de 300 milhões de deuses.

Existem ateus em aviões caindo e, também, na sociedade; não é preciso ter fé para ser ateu, basta ser; não somos “ateus graças a deus”, mas sim por termos inquietações e buscarmos respostas além daquelas mais fáceis ou dogmáticas.

Em seguida V.S.a afirma que “o movimento ou grupo deve se firmar pela solidez e relevância de sua mensagem, não por se colocar como vítima de um preconceito social” e que “para se consolidar, o movimento dos ateus deve mostrar as razões de sua significância social”.  Discordo desse ponto de vista, pois, ele parece escrito por alguém que fala de uma zona de conforto, de alguém que fala em nome de uma maioria e sabe que será apoiado naquilo que manifestar.

Querer comparar o ateísmo com o cristianismo não tem sentido, é apelar para a falácia da falsa analogia. Ateísmo não é religião, a palavra religião, como bem sabe, vem do grego religare, que significa “religação com o divino”. Não existe um “divino” para os ateus, portanto, não temos que demonstrar isso como o cristianismo faz há dois mil anos (inclusive, aqui, poderíamos ter um grande debate sobre essa relevância em certos períodos históricos). Tentar colocar os ateus na mesma “caixa” que organizações, entidades religiosas, instituições, movimentos sociais, é uma forma de impingir que mostrem a que vieram, é uma forma de constrangimento para que um grupo prove que pode se consolidar. 


Além do “movimento” ateu, sou ligado a estudos da causa de pessoas com deficiência e, historicamente, vejo que elas são vítimas de uma sociedade normalizadora. Entenda, professor, ateus, gays, negros, pessoas com deficiência, não tem que “mostrar as razões de sua significância social” para se consolidarem em sociedade.



Não, prezado professor, para que pessoas se consolidem na sociedade, elas só tem que ter uma característica: ser cidadãos. Os ateus são cidadãos e só isso lhes basta para que gozem ao direito de serem respeitados, afirmar o contrário é só mais uma forma pela qual o preconceito transparece. 

Respeitosamente.


Grupo dos ateus do ES no Facebookhttps://www.facebook.com/groups/ateismoes

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