Hoje lembrei do dia em que comecei no meu primeiro emprego.
Foi  um dia interessante, produtivo. Comecei um aprendizado e recebi várias  orientações sobre como proceder naquele novo ambiente.
Uma dessas orientações é o que me chama atenção agora. Me disseram que eu devia manter uma “boa aparência”.
Pergunto: mas que diabos é uma “boa aparência”?
Cabelo cortado, alinhado e bem penteado?
Barba feita, escanhoada?
Terno e gravata ou uma camisa bem passada com calça social e sapatos engraxados e lustrosos?
Esse  é um perfil comum em ambientes bancários e escritórios de advocacia,  mas magine se um vendedor numa loja de artigos esportivos te atendesse  vestido dessa maneira. Estranho, no mínimo.
Ou ainda se você trabalhasse num frigorifico ou como metalúrgico, tal vestimenta seria um tanto quanto desconfortável.
Mas  antes que alguém me venha com a bobagem de que cada lugar exige um  traje adequado, quero expressar meus sinceros protestos à arbitrariedade  dessa política de imagens.
Qual a utilidade real disso?
Vamos voltar no tempo.
O  homem inventou as roupas para aquecer-se, depois passou a usá-las para cobrir ua nudez, o que é uma coisa inútil, pois  todos sabemos o que existe embaixo das roupas uns dos outros. Porém, com  o passar dos séculos, o surgimento das civilizações e do dinheiro,  surge também as diferenças sociais, pois quem tem mais dinheiro, tem  mais poder sobre os outros. E para demonstrar esse poder o homem passa a  comportar-se de maneira distinta dos demais. Assim ele inventa um modo  próprio de se vestir, de maneira tal que todos possam distingui-lo  daqueles que não tem a mesma riqueza material que ele.
Hoje a tradição ainda é seguida. E nos ramos laborais recebe o nome de “boa aparência”.
Quero  meus funcionários agradáveis ao olhar da sociedade para que a sociedade  veja com bons olhos minha empresa e não repare no serviço de merda que  eu presto à ela.
Uma sociedade onde você não precisa 'ter', mas apenas 'parecer ter'. E onde esquece-se do que é realmente importante, SER.
Preocupa-se com as imagens e esquece-se das virtudes.
Se a tarefa realizada exige um traje especial por segurança, higiene, tudo bem.
Mas  exigir que os funcionários vistam-se deste ou daquele modo, cortem  aquele cabelo que demorou anos pra crescer e deu um puta trabalho pra  cuidar, abandonem brincos e piercings, privem-se de tatuagens(o que é  muito pessoal), sendo que nada disso interfere de maneira alguma no  trabalho a ser realizado por ele, é arbitrário, enganador, jogo sujo.
Ao invés de fazer essa maldita maquilagem e continuar nos enganando, devemos educar nossos olhos a ver o realmente importa.
Ele faz o serviço direito? Está contratado.
Não faz? Está demitido.
Posso ir a um banco e ser atendido por alguém de bermuda e regata.
Ou por um engravatado na loja de artigos de surf. A escolha do vestuário é de cada um.
Cada um que escolha sua própria “boa aparência”.
Agora vou aproveitar que não estou no trabalho e recolocar meus piercings, afinal eu fico ótimo com eles.

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